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Espaço destinado à postagem dos artigos que já publiquei voltados para diferentes temáticas relacionadas à educação, valores, psicanálise e comportamento humano.



A TEORIA DA SEXUALIDADE: UMA REVOLUÇÃO FREUDIANA[1]

Nohara Vanessa Figueiredo Alcântara Goes[2]


Resumo: A psicanálise, mesmo após anos existência e resistências, ainda hoje é uma ciência e um método psicoterapêutico praticado e respeitado entre os grandes estudiosos da mente humana. Considerado o pai da Psicanálise, Freud provocou uma revolução no pensamento científico e filosófico da sua época trazendo inúmeras contribuições para o entendimento dos processos mentais e, por conseguinte, dos transtornos inerentes a este processo. Dentre suas muitas teorias, a que mais repercutiu e colaborou para o entendimento da etiologia dos transtornos psicológicos foi a teoria da sexualidade. Nela Freud postula a existência da sexualidade infantil e divide o processo de desenvolvimento desta em diferentes fases. Neste estudo, Freud amplia o conceito de sexualidade, relacionando-o às pulsões sexuais que vão além do mero ato da copulação. Mesmo consideradas polêmicas, suas ideias influenciaram muitos teóricos revolucionando as ciências da mente humana.
Palavras-chave: Psicanálise, Freud, sexualidade infantil, libido.
Resumen: El psicoanálisis, incluso después de años de existencia y resistencia, es aún una ciencia y un método psicoterapéutico practicado y respetado entre los grandes eruditos de la mente humana. Considerado el padre del psicoanálisis, Freud supuesto una revolución en el pensamiento científico y filosófico de su tiempo trayendo innumerables contribuciones a la comprensión de los procesos mentales y por lo tanto la confusión inherente a este proceso. Entre sus muchas teorías, las más afectadas y ha contribuido a la comprensión de la etiología de los trastornos psicológicos es la teoría de la sexualidad. En él, Freud postula la existencia de la sexualidad infantil y divide el proceso de desarrollo de esto en las diferentes fases. En este estudio, Freud amplía el concepto de la sexualidad en relación con los impulsos sexuales que van más allá del mero acto de la cópula. Aunque objeto de polémica, sus ideas han influido en muchos teóricos revolucionando la ciencia de la mente humana.
Etiquetas: Psicoanálisis, Freud, la sexualidad infantil y la libido.


"Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos...“sem querer“.
                                                                                                                    Sigmund Freud

“Inconsciente”, “Complexo de Édipo”, “Ego”, são algumas das dezenas de expressões que se fazem presentes no discurso popular, e que, mesmo carentes de um aprofundamento teórico por parte de quem usa, ainda hoje integram o vocabulário de indivíduos do mundo inteiro. Este fato, sem dúvida se deve à grande influência da Psicanálise na vida das pessoas e a sua grande repercussão na forma de interpretar a mente humana.

A Psicanálise, com mais de um século de existência, ainda mostra-se viva e influente trazendo importantes contribuições à ciência e a filosofia, mas tem na sua história as marcas das fortes resistências que enfrentou desde o seu nascimento até os dias atuais.

A polêmica em torno dos pressupostos da psicanálise se ancora principalmente na oposição da psicologia cognitivo-comportamental e da neurociência que se apóia nas bases biológicas da mente. O fato é que, mesmo frente a opiniões reacionárias, a psicanálise se popularizou e ganhou um respaldo teórico no meio científico de tal maneira que formou adeptos e constituiu-se numa ciência que revolucionou a cultura moderna e a forma de se conceber a alma humana.

Intitulado como o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud deu uma contribuição imensurável a esta ciência ao propor uma teoria que explicasse a estrutura e o funcionamento da mente humana, alem de um método de análise dos motivos do comportamento a partir do estudo dos processos mentais inconscientes. Ao apresentar uma concepção estrutural tripartite da mente, ele desenvolveu uma nova forma de abordar as condições psíquicas e tratar os transtornos mentais; forma esta que se opunha aos antigos métodos clínicos psiquiátricos.

Entretanto, a popularidade da Psicanálise deve-se principalmente a ousada forma de explicar o comportamento humano recorrendo às tendências sexuais como principal fonte das motivações humanas. Freud, a partir das suas experiências clínicas, concluiu que a maioria dos distúrbios ou transtornos psicológicos vividos por seus pacientes era de natureza sexual e estavam relacionados a desejos reprimidos. Segundo a sua tese, a energia sexual (libido), reprimida por experiências sexuais perturbadoras, expressava-se através dos sintomas neuróticos manifestados pelos seus pacientes.

A contragosto de vários estudiosos, inclusive de alguns dos seus próprios seguidores, a idéia de que o sexo dominava o inconsciente e que influenciava todos os interesses humanos, levou a psicanálise a ser fortemente contestada induzindo alguns discípulos de Freud a se afastarem do seu círculo e criarem suas próprias correntes psicanalíticas, a exemplo de Jung.

A partir de seus estudos sobre a sexualidade, Freud desmistifica a idéia tradicional e limitada que conceitua o sexo como a relação genital de dois adultos de sexos opostos, e evidencia outras facetas da vida sexual humana, como por exemplo, a possibilidade da atração sexual do indivíduo pelo mesmo sexo ou por seus próprios órgãos genitais não necessitando do uso “normal” do sexo para se chegar a um estado de prazer.

Entretanto, o que de fato escandalizou a sociedade da época, foi postular a existência de uma sexualidade infantil. Ao estudar as fases da evolução libidinal da criança, Freud amplia o conceito de sexualidade evidenciando a existência de pulsões sexuais que vão além da procriação. Muito mais do que atos e prazeres ligados aos órgãos genitais, a sexualidade para ele, é um processo que inclui excitações e ações que surgem desde a infância e proporcionam um prazer que ultrapassam uma mera satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental (a amamentação, por exemplo, é uma ação que, além de suprir uma necessidade orgânica, proporciona prazer).

Nos seus estudos, Freud dividiu o processo de desenvolvimento sexual da criança em fases. São elas:

Fase oral: período que se inicia no nascimento e se estende até os 2 anos de idade. Nesta fase, a zona de erotização é a boca, por isto, o desejo e o prazer são encontrados no seio materno, na chupeta, na mamadeira, nos dedos, etc.; elementos que se constituem em objetos deste prazer;

Fase anal: ocorre entre os 2 e os 3 anos de idade, aproximadamente. Neste período, a zona de erotização é o ânus. O desejo e o prazer estão intimamente relacionados ao controle dos esfíncteres (anal e uretral). Freud destaca a manifestação do prazer advindo da defecação, bem como, o sentido das fezes para a criança que considera as mesmas como uma extensão, um produto do próprio corpo, um presente;

Fase fálica: corresponde ao período que ocorre entre os 3 e os 5 anos de idade, aproximadamente. Nesta fase, a zona de erotização é o órgão sexual, e é chamada de “fálica”, pois corresponde ao momento em que a criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um. O desejo e o prazer concentram-se principalmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam estes órgãos. Para as meninas, tal fase constitue-se num momento crítico no seu desenvolvimento. Segundo Freud:

"A descoberta de que é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina. Daí partem três linhas de desenvolvimento possíveis: uma conduz à inibição sexual ou à neurose, outra à modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade e a terceira, finalmente, à feminilidade normal" (FREUD, 1933 [1932], p. 155).

Cabe aqui lembrar que, nesta fase, surge também o Complexo de Édipo, onde o menino manifesta uma atração pela mãe e passa a se rivalizar com o pai. Na menina ocorre o mesmo processo mudando-se apenas os papéis (o pai é o objeto de desejo).

Fase de latência: ocorre aproximadamente a partir dos 6 ou 7 anos de idade e estende-se até a puberdade. Caracteriza-se por uma diminuição da libido sexual e um deslocamento desta energia para atividades sociais e escolares.
Fase genital: constitui-se na fase final do desenvolvimento psicossexual e inicia-se na puberdade onde a energia libidinal volta a concentrar-se nos órgãos sexuais. Nesta fase, a pulsão sexual que, até então, era principalmente, auto-erótica, é canalizada para a busca do objeto sexual que agora é externo ao indivíduo: o outro.
De acordo com a identificação e o estudo destas fases, Freud concluiu que o pleno desenvolvimento psíquico do indivíduo depende da vivência, elaboração e superação de cada fase. Qualquer obstáculo que dificulte este desenvolvimento pode levar a criança a ficar “fixada” em uma ou mais fases, constituindo tipos ou subtipos de personalidade. Outra possibilidade é a “regressão”, onde, numa situação muito difícil de ser elaborada, a criança “regride” a uma etapa da vida em que ela sentia-se segura e gratificada. Tanto a fixação, quanto a regressão para Freud levam a sintomas que podem ser a fonte de neuroses.

A partir da publicação dos estudos sobre a sexualidade e o seu desenvolvimento no indivíduo, pesquisadores de todo o mundo passaram a buscar mais conhecimentos sobre estes processos, tanto pelo viés psicanalítico, quanto biológico e comportamental. Apesar de toda a polêmica e críticas surgidas, sua teoria mobilizou estudiosos e revolucionou as ciências da mente humana deixando um legado imensurável que influenciou vários campos do saber.

Suas idéias tornaram-se parte de uma herança de conhecimentos que referenciaram vários teóricos que reconhecem a importância da sua contribuição. O mundo deve a Freud à descoberta do universo que faz morada no nosso inconsciente e, se não determina, ao menos, influencia as nossas escolhas, nossos desejos e nossas ações.

Freud não teve a pretensão de apontar soluções para os problemas da psique humana, mas sim, revelar que a compreensão do passado do indivíduo traz à tona respostas para o seu modo de ser e agir, e por conseqüência, para o entendimento dos seus processos mentais.

“Sigmund Freud, pelo poder de sua obra, pela amplitude e audácia de suas especulações, revolucionou o pensamento, as vidas e a imaginação de uma era... Seria difícil encontrar na história das idéias, mesmo na história da religião, alguém cuja influência fosse tão imediata, tão vasta e tão profunda” (WOLLHEIM, 1971, p. IX).




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


FREUD, Sigmund. Feminilidade. (1933[1932]) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. 22.

WOLLHEIM, R. As idéias de Freud. São Paulo: Cultrix, 1971.



[1] Artigo produzido em cumprimento à disciplina Biografia de Sigmund Freud do curso de Formação em Psicanálise Clínica do CEAPP (Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico) ministrada pelo professor Antônio Carrilho.
[2] Aluna do curso de Psicanálise Clínica do CEAPP, Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Pratticcioner e Master em Programação Neurolinguística e Coordenadora Pedagógica da Prefeitura Municipal de Salvador.