O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neuropsicológico com bases biológicas e caráter hereditário que afeta 10% da população mundial. É considerado hoje um grave problema de saúde que tem sido alvo de muitos estudos em todo o mundo. Deve ser cada vez mais discutido nas escolas, principalmente porque tal transtorno afeta a aprendizagem, as relações interpessoais e autoestima do aluno.
Recentemente, fiquei surpresa com a afirmação de um pai de aluno quando disse que seu filho recebeu o diagnóstico de TDAH pelo psiquiatra que o atendeu. Surpresa pelo diagnóstico, que é incompatível com as características e o comportamento do aluno, e surpresa principalmente por perceber que tal equívoco não partiu de uma pessoa leiga e sim de um profissional que deveria ter feito uma investigação criteriosa para fazer tal afirmação.
De certo, é muito comum ouvir pais e até professores rotulando indiscriminadamente uma criança como hiperativa. Este rótulo frequentemente usado no discurso popular é, muitas vezes, direcionado de forma arbitrária a qualquer criança travessa, inquieta e falante que “incomode” com seu comportamento agitado e desatento. O desconhecimento acerca do que é o TDAH leva a pensamentos equivocados e, consequentemente, a dificuldades no diagnóstico, no tratamento e nas intervenções necessárias a uma criança que realmente possui tal transtorno.
No caso do aluno que mencionei, o diagnóstico foi feito numa única consulta com o psiquiatra somente a partir de algumas informações dadas pela família e pelo garoto. Apesar de saber que o diagnóstico de TDAH é clínico - não existe até o momento, nenhum exame ou teste que possa sozinho dar este diagnóstico - este só pode ser construído corretamente a partir de diversas avaliações, muitas vezes com abordagem multidisciplinar. Neste caso, um relatório da escola sobre o comportamento, sociabilidade e aprendizagem da criança é de grande importância.
Depois de reunidas todas as informações, o médico deverá avaliar se os sintomas apresentados preenchem os critérios diagnósticos que são apresentados nos Manuais de Classificação (MCs) para o TDAH (os mais utilizados são o DSM-IV e o CID-10).
TABELA: Sintomas para diagnóstico de TDAH na criança |
1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas. |
2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer. |
3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele. |
4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações. |
5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades. |
6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado. |
7. Perde coisas necessárias para atividades (por exemplo: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros). |
8. Distrai-se com estímulos externos. |
9. É esquecido em atividades do dia-a-dia. |
10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira. |
11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado. |
12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado. |
13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma. |
14. Não para ou frequentemente está a "mil por hora". |
15. Fala em excesso. |
16. Responde às perguntas de forma precipitada, antes de elas terem sido terminadas. |
17. Tem dificuldade de esperar sua vez. |
18. Interrompe os outros ou se intromete (p.ex. mete-se nas conversas / jogos). (Adaptado do questionário SNAP-IV) |
A partir dos sintomas explicitados acima, podemos fazer uma análise avaliando cada item com as seguintes indicações:
- Nem um pouco
- Só um pouco
- Bastante
- Demais
Como avaliar:
1) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 1 a 9 = existem mais sintomas de desatenção que o esperado numa criança ou adolescente.
2) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado numa criança ou adolescente.
O questionário SNAP-IV é útil para avaliar apenas o primeiro dos critérios (critério A). Para se fazer o diagnóstico, deve se levar em consideração outros critérios que também são necessários. São eles:
CRITÉRIO A: Sintomas (vistos acima)
CRITÉRIO B: Alguns desses sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de idade.
CRITÉRIO C: Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa).
CRITÉRIO D: Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas.
CRITÉRIO E: Se existe outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos exclusivamente a ele.
Há ainda que se considerar que existem 04 tipos de TDAH com ou sem comorbidades.
a) TDAH do tipo predominante desatento.
b) TDAH do tipo Hiperativo/Impulsivo.
c) TDAH do tipo combinado.
d) Tipo inespecífico.
Lembre-se que o diagnóstico definitivo só pode ser dado por um profissional. Portanto, caso haja suspeita de TDAH, o mais seguro ainda é encaminhar para a avaliação de um médico, de preferência, psiquiatra.
Nohara Alcântara
Nohara Alcântara
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